Este é o quarto excerto de um artigo escrito pelo meu pai.
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A obra será clara e nobre quando, usando as palavras comuns, está semeada de metáforas: o poeta tempera-a deste modo: dá grandeza à banalidade. Mas também pode cair no barbarismo, se emprega apenas metáforas; ou ser baixo, por causa do exclusivismo das palavras comuns, ou enigmático, se gasta em absoluto termos insignes ou «caros».
Outro requisito: a variedade. «Varietas delectat», segundo o prolóquio latino.
Na opinião do Filósofo, a epopeia tem uma particularidade importante: enquanto a tragédia só pode imitar a acção que está em cena, a epopeia imita muitas partes simultâneas da acção. Ora isto dá grandeza à obra épica, proporciona ao ouvinte o prazer da mudança, e prepara a variedade de episódios dissemelhantes. Aristóteles, Poética, 1459 b, 13 s.
Devem ainda, as obras de arte, ter uma certa extensão. Como escreve o autor da Poética, «uma coisa pode ser inteira e ter pouca extensão. É inteira aquela que tem começo, meio e fim». E remata: «As fábulas bem constituídas não devem, pois, começar nem acabar num ponto tomado ao acaso». Idem, ibid., 1450 b 24 - 35.
Só outro requisito mais: a proporção.
A este respeito, escreve: porque « a beleza reside na extensão e na ordem..., um animal belo não pode ser extremamente pequeno ( porque torna-se confusa a vista quando não dura senão um momento quase imperceptível), nem extremamente grande (porque, neste caso, não o abrange o olhar, mas a unidade e a totalidade escapam à visão do espectador; imagine-se, por exemplo, um animal que tivesse milhares de estádios(antiga medida itinerária) de comprimento...) segue-se que, se para os corpos e para os animais é precisa uma grandeza tal que se possa abranger com a vista, do mesmo modo é precisa para as fábulas uma extensão tal que a memória possa capturar». Idem, ibid., 1450 b 35 -40; 1450 a 1 -6.
Nem São Tomás disse melhor, quando se exprimiu assim: - «Pulchra enim dicuntur quae visa placent; unde pulchrum in debita proportione consistit, quia sensus delectatur in rebus debite proportionatis». Aquinatis, S. Th., Sum.Th.,Parisiis (ed. 17) q. V, art. IV « Os pequenos podem ser formosos e comensurados - mas não belos». Aquinatis,S. Th., in Libros Ethicorum Aris. ad Nicomacum, Taurini, 1934, Lib. IV, p 249 - 251.
E Platão?
Este filósofo, na opinião de Latino Coelho, é « o mais ilustre continuador da escola socrática. É entre os discípulos do grande mestre o mais genial e inventivo. É por ele que a revolução espiritual que Sócrates promove, se propaga a Aristóteles, o maior e o mais claro entendimento de toda a antiguidade.(...)
Platão é o feliz intermediário entre a ciência popular de Sócrates e a filosofia profundamente científica de Aristóteles; entre o discurso socrático e o seguido e metódico raciocinar do sábio Estagirita. Porém, entre Platão e Aristóteles, apesar da relação do mestre e do aluno, há nas doutrinas uma inconciliável discordância. Se o ideal é, em Platão, o assunto de toda a filosofia, a ciência, ao contrário, em Aristóteles, só pode tomar por fundamento o experimental.» Latino Coelho, Demóstenes, Oração da Coroa, Lisboa, 1922 (4ª edição) pág. XVIII.
J.E.SANTOS - meu pai