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segunda-feira, 20 de julho de 2020

PANDEMIA

O país parou.
Crianças e jovens ficaram retidos em casa, para se protegerem do temível vírus.
Os professores, zelosos, enviavam emails com marcações de trabalhos a serem feitos pelos alunos ou com auxílio dos familiares. A docente de Língua Portuguesa de uma aluna do 5º ano de escolaridade pediu o seguinte: «Redige um texto em verso, sobre os tempos que estamos a viver, a tua experiência, os teus sentimentos, os teus medos, os teus sonhos e a tua experiência na escola à distância.»
E a menina escreveu assim, não deixando que ninguém alterasse  nenhum termo, para que a professora soubesse que, de facto, era ela a autora.

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Corria o mês de fevereiro
E olha o que aconteceu:
Trabalhou muito o coveiro,
Porque o Covid apareceu.

Senti enorme estranheza,
Tudo mudou em redor,
Como se estivesse presa
E o tempo fosse maior.

Convivo com a família,
Todo o dia reunida,
Mas tomo um bom chá de tília,
P'ra uma noite bem dormida.

Não ponho o meu pé na rua,
P'ra não ser contagiada,
Minha mão não anda nua,
E não toca mesmo em nada.

Gostava de ver o fim
Desta louca pandemia,
A mãe abraçar-se a mim,
De manhã ao fim do dia.

Inovador é o ensino
Com as aulas à distância,
Mas às vezes desatino
E agradeço a tolerância.

Saudades a toda a hora
Das aulas que antes tinha
Ó Covid, vai-te embora,
P'ra eu voltar à vida minha.

MARIA PINHEIRO - abril de 2020


quarta-feira, 17 de junho de 2020

PARA TI, PARABÉNS

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Para ti parabéns que fazes anos
Mil foguetes velas e doçaria
Dédalos de sonhos ou desenganos
Passagens consentidas de porfia

Não são dias assim que são insanos
Nem são festas também pois quem diria
Nem viver é somente somar danos
Quando o Sol sempre nasce por magia

Dos traços indeléveis da lembrança
Decorrem deslumbradas ilusões
Dos teus trinta mais seis de longa trança

a temer já sem medo as emoções
a correr sem ter pressa da tardança
alegórico som de sedições

MANUEL BRAGANÇA DOS SANTOS - Junho de 2020

Salvé,19 de Junho de 2020


segunda-feira, 8 de junho de 2020

A RAPARIGA DOS RUBROS SILÊNCIOS

No campo, respira-se o ar lavado dos grandes espaços abertos; escuta-se a enigmática musicalidade do vento, o som melódico dos regatos, o coro dos passarinhos, a sinfonia perfumada das flores silvestres, a subtil leveza das colinas; no campo, sente-se a envolvência aveludada dos prados, a sombra sensual do arvoredo e o sedoso toque da brisa

No campo, ainda há quem fale com a terra e oiça, com espanto, o silêncio dos frutos. No campo, vive Laurinda, a rapariga de todos os encantos e desejos. Ela viaja pelo sonho, nas asas da fantasia, sob o Sol do seu ardente coração, como fazem os rios sem margens

Hoje, toda a aldeia está lá, no prado das cerejeiras vergadas pelo ímpeto dos frutos carnudos e vermelhos. A colheita é sôfrega, lasciva, extenuante. Os gigos enchem-se em torno dos troncos. Laurinda já não sonha e refugia-se no silêncio, respondendo, triste, magoada mas decidida, pela incumbência da Natureza. Vai dividindo a atenção, também, com um outro gigo colocado muito próximo de si. No seu interior, embrulhada numa manta fresca e limpa, dorme, inocente, a filha recém-nascida

Desde a última colheita que Martinho não mais procurou Laurinda. Esta vive de coração apertado e chora às escondidas. Contudo, não dá a face, enfrenta a adversidade. Doce, bela e jovem, só através dos seus grandes olhos verdes, deixa transparecer a angústia que lhe dilacera a alma. Faz hoje dezoito anos, mas ninguém se lembra do seu aniversário

Pelo lusco-fusco, são estendidas séries de lâmpadas coloridas entre as cerejeiras e a ramada lateral; não faltam os petiscos habituais e o vinho regional... e a música tocada de improviso. No centro, sob o brilho prateado das estrelas, os pares rodopiam ao som da concertina; no círculo dos mais velhos, as crianças buscam o aconchego das mães

De repente, Laurinda ergue-se com o bébé ao colo, discreta
; entra na roda e ensaia uns passos de dança. Todos lhe sorriem e lançam gracinhas à criança. Agora, a concertina rasga a noite com o seu gemido cortante, magoado e nostálgico

Martinho, então, aproxima-se, resoluto, entra na roda, envolve a rapariga e a filha num abraço largo e sentido, beijando a jovem com carinho.

CONTO de MANUEL BRAGANÇA DOS SANTOS - 1 de Maio de 2019

quinta-feira, 16 de abril de 2020

QUEM SABE SE

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Quem sabe se padecer a compasso
já não passa de simples concessão
ou se serve a mais sádica sanção
cerrada sob o sal do que não traço

Quem sabe se decidir cada passo
ao ceder a tal censura ou pressão
é salsa de sucinta sensação
ou seda no semi-som do regaço

Quem cerzir uma tão tensa canseira
soletra por ser incerto cessar
mas sobra como massa na masseira

na sumição de nunca sossegar
p'ra selar a sensual dor terceira
sentença remissiva por sanar


MANUEL BRAGANÇA DOS SANTOS




quinta-feira, 9 de abril de 2020

DEIXA - ME VER QUEM ÉS

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Deixa-me ver quem és se és capaz
mas define melhor teus sentimentos
pois não sendo tu nunca quem te apraz
serás sempre o tal muro dos lamentos

Ergue-te no destino mais sagaz
aceso na recusa de tormentos
afasta-te da mancha mais falaz
do fado de tolher os pensamentos

Renovar nas palavras os sentidos
sabidos não pensados do desejo
será ganhar os sonhos que compus

Reformular os actos já cindidos
virtual idioma que almejo
é conduzir o mito que nos luz.


MANUEL BRAGANÇA DOS SANTOS

quarta-feira, 1 de abril de 2020

SOBRE O NOVO CORONA - VÍRUS

Pede-me o meu irmão Manuel, que escreve com o pseudónimo de Humberto Maranduva, no Blogue Angulus Ridet, que lhe publique este texto, esperando uma mais ampla divulgação (segundo ele).
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Num momento tão sensível e ambíguo como o actual (Primavera de 2020), em que um vírus invisível (novo Corona-vírus) ameaça a sobrevivência da espécie humana, a nível planetário, não pode haver lugar ao desdobramento das subjectividades tão típicas da diversidade conceptual cultivada pelos indivíduos ou grupos; às suas idealizações narcisistas, egocêntricas ou auto-eróticas; às interpretações divergentes; ao individualismo; às acções isoladas; ao erguer patético de uma Babel dessignificada.

Se o valor da Vida não for tido em conta como o primeiro e o mais importante, então, toda a saga civilizacional, ainda que considerando todas as suas oscilações mais ou menos demenciais, terá chegado ao seu ponto de oclusão. No âmbito  realista da interpretação do Mundo, tal como ele se nos apresenta, devemos tentar compreender, aceitar, apoiar e validar o esforço hercúleo da Ciência médica e social, no sentido da tentativa de percepção, interiorização, harmonização, correcção e inversão deste surpreendente ataque à manutenção da Vida.

Sob o ponto de vista da investigação teórica e da sua consequente metodologia programática e pragmática, o paradigma deve assentar na arquitectura da racionalidade científica, através da convalidação do empirismo evolutivo (método científico), isto é, sempre ancorado em resultados práticos verificáveis. Estes, contudo, devem afirmar-se por meio de modelos analíticos, qualitativa e quantitativamente aceites, capazes de satisfazer os valores da Vida social saudável e as necessidades legítimas do colectivo.

Neste quadro, têm de ficar fora de questão os conflitos sociais, a subjectividade, particular ou grupal, a ambição, a ganância e as tensões de poder, para que sejam possíveis a ordem, a uniformização dos valores fundamentais (universais) e a reposição das condições de manutenção de Vida. Sendo assim, o foco é apenas um, precisamente porque, tanto serve ao indivíduo em particular, como à Sociedade em geral.

Como escreveu Emmanuel  Lévinas (1980), estamos primordialmente vinculados ao Outro, mesmo que essa experiência tenha ocorrido para uma consciência pré-reflexiva. Este elo ao Outro é estrutural e estruturante para o sujeito; matar o Outro é cometer suicídio. Continua, afinal, a estar tudo nas mãos do Homem!

HUMBERTO MARANDUVA

domingo, 22 de março de 2020

SOBREVIVER

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Manhã de azul no céu:
É Março, bem ventoso.
Aqui, só tu e eu
E o mar, clamoroso!

Tu e o optimismo
Presente, em cada dia,
Afastas pessimismo,
Que a todos atrofia.

Como se vai lutar
Contra esta violência
Que teima em se afirmar
Com toda a veemência?!

Como é que um simples verme,
Totalmente cobarde,
Parece um paquiderme,
Sempre a fazer alarde!

E a vítima, indiferente,
Caminha poderosa,
E segue sempre em frente,
Qual diva, majestosa!

Quiséramos saber
Como é que alguém corrói
Quem lhe dá de comer!!!
E o «verme» só destrói!!!

Melhor, isso é o que pensa
Quem dos outros depende
E dá-se ares de sentença
Mas a ninguém defende!

Há biótipos ímpares
Por esse Mundo fora
Comportamentos díspares
Sempre e a toda a hora!

E julgam que é viver
Fingindo o que não são
É só sobreviver
E não passar do chão!

E tu, sempre me alertas,
Quando assim me deparo
Com estas «descobertas»,
Mas logo me preparo.

A Vida é assim mesmo
Vamos sorrir, sonhar!
Caminhar sempre a esmo
Pensando em triunfar.!

Seguimos de mãos dadas,
 Felizes, a cantar
Muito bem conjugadas
A par com o verbo AMAR.